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Desemprego alto não diminui dificuldade de contratar profissionais qualificados no Brasil

publicada em 02/03/2020

Mesmo com 11,6 milhões de pessoas sem emprego, de acordo com os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), encontrar mão de obra qualificada no Brasil ainda é tarefa difícil.

A escassez de talentos é um fenômeno de escala global e atinge 54% das empresas no mundo todo, segundo relatório feito pelo ManpowerGroup, apresentado na última edição do Fórum Econômico Mundial.

No país, a taxa apresentou queda nos últimos dois anos, mas cresceu 18 pontos percentuais de 2018 para 2019 atingindo 52% dos empregadores e intensificando os desafios das empresas, sobretudo, as médias (50-249 funcionários) que têm mais dificuldade em encontrar trabalhadores para preencher vagas, conforme estudo da consultoria.

Essa alta mundial é impulsionada pelo avanço da tecnologia que modificou as relações de trabalho e as buscas por profissionais, agora demandado por novas habilidades, como explica Nilson Pereira, presidente do ManpowerGroup no Brasil.

“As pessoas pensam que a tecnologia vai reduzir ou tirar o emprego, mas o que acontece é o contrário. A maioria das empresas pretendem aumentar ou manter as vagas mesmo com a tecnologia, que substitui as funções repetitivas. Por outro lado, as empresas buscam profissionais ágeis e com facilidade de adaptação, justamente para conseguir acompanhar e lidar com o avanço tecnológico”, diz Pereira.

No caso do Brasil, o executivo aponta que a escassez registrada pode indicar um cenário de aquecimento da economia, apesar da relação inversa entre a taxa de desemprego e a dificuldade de encontrar talentos.

"Em anos que a economia esteve mais aquecida, já batemos 71% [2012] de escassez, porque, se o ambiente de desemprego é baixo, os profissionais vão estar mais valorizados e a ausência de talentos e qualificações para algumas áreas será maior”, explica Pereira.

Pelo levantamento, as vagas em profissões de ofício (eletricistas, soldadores, mecânicos) aparecem como as mais difíceis de serem preenchidas, seguida por profissionais da área de contabilidade/finanças, administração, e vendas e marketing.

 

Ausência de qualificação afeta produtividade

No cenário de recuperação da atividade econômica, a ausência de trabalhadores qualificados preocupa diversos setores da indústria nacional. Cinco em cada dez empresas do setor relatam a falta de mão de obra apropriada, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Entre os segmentos, a indústria de Biocombustíveis é a que apresenta o maior percentual de empresas com dificuldade na hora da contratação, cerca de 70%. Em seguida, reportam o problema o setor de Móveis (64%), Vestuário (62%), Borracha (62%), Têxteis e o de Máquinas e equipamentos, ambos com 60%.

A ausência de capital humano preparado para atuar na indústria é um obstáculo para mais da metade das empresas em quase todas as regiões do país: Centro-Oeste (55%), Sul (54%), Nordeste, (52%), Norte (50%), e Sudeste (48%). A área de produção é a mais afetada pela falta de profissionais. 96% das empresas encontram dificuldade em contratar operadores qualificados, enquanto 90% reportam a ausência de trabalhadores de nível técnico.

O problema, além de ser histórico no setor, indica que a falta de mão de obra qualificada é uma questão estrutural da economia brasileira, que sensibiliza as linhas de produção, segundo a CNI, impossibilitando as empresas de aumentar a sua produtividade e de melhorar ou manter a qualidade dos seus produtos – refletindo também na competitividade.

“É surpreendente que as empresas reclamem da falta de mão de obra com o desemprego em 12 milhões. A ausência persiste, porque o problema da qualificação da população, como todo, é uma questão educacional, que não se resolve no curto prazo e nem houve um grande esforço para resolver isso”, aponta Renato da Fonseca, gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI.

O paradoxo entre o desemprego em alta e a falta de mão de obra especializada indicada nas duas pesquisas converge em áreas como: vendas/marketing, administrativa, gerência/supervisão e desenvolvimento/pesquisa, o que aponta para prejuízos em todas os setores das empresas.

“Na medida em que a economia se aquece, esse problema vai aumentar se transformando num entrave para a retomada do crescimento do país. Como o problema afeta diretamente a capacidade de aumento de produtividade das empresas, ela tem mais dificuldade para crescer não só porque não tem mão de obra suficiente, mas porque começou a perder mercado lá fora e aqui dentro para os importados”, explica Fonseca.

 

Desdobramentos

O efeito da escassez de talentos tem dificultado a inovação dentro da indústria, de acordo com o levantamento, porque prejudica a absorção de novas tecnologias no setor e o desenvolvimento de novos produtos.

Como alternativa, nove em cada dez empresas investem em capacitação para driblar a falta de mão de obra qualificada, mesmo que 88% delas enfrentem dificuldades para fazer investimentos em formação para o trabalhador. Para essas, o principal obstáculo, com 53% das citações, é a má qualidade da educação básica.

Nesse sentido, Fonseca afirma que no curto prazo deve haver esforço coletivo de vários atores (governo, empresas, instituições públicas, privadas e Sistema S) para capacitar adequadamente a população e implantar novas políticas públicas no sistema de ensino brasileiro, que é generalista e focado para aprovação no vestibular.

No estudo, a CNI destaca que a quarta revolução industrial está promovendo mudanças significativas nas competências dos trabalhadores e, por conta desse novo contexto, “a educação básica precisa dar ênfase nas áreas STEAM (ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) e fomentar a interdisciplinaridade, a resolução de problemas e o desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisões”.

A educação profissional é uma das alternativas apontadas pela entidade para acompanhar o cenário de transformação do mercado de trabalho e diminuir o número de pessoas que entram no mercado sem preparo, nem uma profissão definida.

Voltado para formação prática, o ensino técnico ainda não possui grande adesão no Brasil – menos de 10% dos alunos do ensino médio estão matriculados nesses cursos.

Em 2019, os cinco cursos mais procurados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) têm a média salarial de R$ 5181,00 e duração de menos de dois anos.

 

Por Infomoney

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